terça-feira, 17 de agosto de 2010

Para Reflectir... ( III)


"PRECISA DE AJUDA...?

Quantas vezes durante a nossa vida teremos formulado esta pergunta, a um desconhecido?
E quantas vezes, teremos sido igualmente interpelados, desta forma,  por desconhecidos?
Aposto que não muitas, para não dizer muito poucas...
E no entanto, não será por falta de oportunidade, pois se estivermos interessados e atentos ao que nos rodeia, não nos faltarão ocasiões para perguntar e também para responder a quem se interessar, (desinteressadamente), pelos problemas alheios!
Pois há poucas horas atrás, fui agradavelmente surpreendida com esta pergunta, por um par de jovens namorados, que não teriam ainda 20 anos.
Cerca das 21h, eu e a minha filha adolescente tínhamos acabado de nos apear do autocarro, depois de um fim de semana fora, quando nos demos conta de que o nosso saco de viagem tinha ficado no referido autocarro.
Estávamos um pouco desorientadas pois este tinha acabado de partir a grande velocidade, tendo contudo ainda que "passar" um semáforo uns 500 metros adiante, que se encontrava vermelho.
Foi quando ouvimos a pergunta: "Precisam de ajuda?"- feita pelos dois jovens.
Olhei para eles agradecida pelo interesse demonstrado, sabendo que por muito boa vontade que tivessem não nos podiam ajudar.  Informei no entanto, que tinha deixado o saco no interior do autocarro e apontei para as luzes do veículo, parado lá longe a aguardar que o semáforo abrisse...
A rapariga olhou para o rapaz e disse: "Achas que consegues?"
Olhei para eles sem entender muito bem, e por momentos pensei que havia um mal-entendido ou então estariam a "gozar" com a minha cara...
O rapaz respondeu: "Acho que consigo!" - e dito isto, partiu como uma flecha a correr na direcção do autocarro. 
Olhei incrédula, para a rapariga e disse: "Que horror! Ele não vai conseguir!" - e ela com um ar confiante: "Consegue. Ele é atleta e faz escalada. Já escalou o Monte Branco. O pai dele também é assim!"
Fiquei a vê-lo correr e desaparecer. E vi o autocarro lá longe continuar o seu percurso, cruzando a Circunvalação para desaparecer numa rua à esquerda onde a uns 300 m, teria uma paragem.
Perante o ar confiante da rapariga, fiquei a aguardar "torcendo" para que ele tivesse sorte, apesar de me parecer uma coisa surreal...
Disse-lhe que tinha ficado muito surpreendida pelo gesto deles, tendo em conta o egoísmo e desinteresse que nos cerca no mundo actual. Ela, respondeu que eles se interessam e tentam ajudar, principalmente depois de ela própria ter sido vítima de um assalto e ter ficado prostrada no chão, sem que tivesse tido alguém que tivesse parado para ajudar! E que ainda há bem pouco tempo tinham ajudado um casal de velhinhos invisuais que se encontravam em dificuldades, naquele mesmo sítio (em frente ao Hospital de São João, no Porto)...
Decorreram uns longos minutos, quando da semi-escuridão e do lado oposto da via, ela distinguiu a figura dele. Trazia um andar exausto, e na mão... o meu saco de viagem!
Agradeci-lhes profundamente e disse-lhes para nunca se arrependerem de actos como aquele!
Ela alegremente respondeu: "Não! Nós somos assim!"

Eram um casal muito jovem.  Muito bonitos, por fora e por dentro!