quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Para Reflectir...

"Se até uma estrela longínqua está ligada a ti, que devo pensar de uma paisagem vivente, na qual os veados se esquivam das árvores velhas e os animais mais  selvagens lambem seus filhotes suavemente? Que devo pensar da paisagem humana, na qual convivendo a opulência e a miséria, algumas crianças riem e outras não encontram forças para expressar seu pranto?

1. Porque se dizes: "Chegamos a outros planetas", deves declarar também: "Massacramos e escravizamos povos inteiros, superlotamos os cárceres com pessoas que pediam liberdade, mentimos desde o amanhecer até à noite... Falseamos nosso pensamento, nosso afecto, nossa acção. Atentamos contra a vida a cada passo, porque criamos sofrimento".


2. Nesta paisagem humana conheço meu caminho. Que acontecerá se nos cruzarmos em direção oposta? Eu renuncio a todo bando que proclame um ideal mais alto do que a vida e a toda a causa que, para impor-se, gere sofrimento. Por isso, antes de acusar-me por não fazer parte de facções, examina tuas mãos, que nelas não descubras o sangue dos cúmplices. Se creres que é valente comprometer-se com aquelas, que dirás desse a quem todos os bandos assassinos acusam de não comprometer-se? Quero uma causa digna da paisagem humana: a que se compromete a superar a dor e o sofrimento...)

3. Nego todo o direito à acusação que provenha de um bando em cuja história (recente ou antiga) figure a supressão da vida.

4. Nego todo o direito à suspeita que provenha daqueles que ocultam os seus rostos suspeitos.

5. Nego todo o direito a bloquear os novos caminhos que o ser humano necessita percorrer, mesmo que se coloque como máximo argumento a urgência actual.

6. Nem mesmo o pior dos criminosos me é estranho. E se o reconheço na paisagem, reconheço-o em mim. Assim é que quero superar aquilo que em mim e em todo o homem luta para suprimir a vida. Quero superar o abismo!

 Todo o mundo a que aspiras, toda a justiça que reivindicas, todo o amor que buscas, todo ser humano que quiseres seguir ou destruir, também estão em ti. Tudo o que mudar em ti, mudará a tua orientação na paisagem em que vives. De maneira que se necessitas de algo novo, deverás superar o velho que domina em teu interior.
 E como farás isso?
 Começarás por perceber que ainda que mudes de lugar, levas contigo a tua paisagem interna."


(Transcrição de "A  PAISAGEM HUMANA" - Capítulo IV do livro A Paisagem Interna  de SILO)

1 comentário:

Catarina disse...

… e reflectir nos faz…