sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Futuros Marginais?!

Perto do local onde vivo, existe um viaduto com uma linha férrea, só de uma via, por onde circulam comboios suburbanos. Este viaduto atravessa duas estradas secundárias, e uma auto-estrada. Esta manhã quando seguia a pé por uma dessas estradas, reparei que por cima desse viaduto estavam duas crianças, um rapaz e uma rapariga, ele teria uns 10 a 11 anos e ela uns 12. De mochila escolar ás costas, entretinham-se a apanhar pedras da linha férrea e arremessavam-nas para baixo. Parei por instantes, pois tive receio que me atingissem, mas logo verifiquei que afinal as pedras não eram dirigidas à estrada onde eu me encontrava, mas sim para a auto-estrada, onde àquela hora (11h), circulava imenso trânsito. Fiquei parada a olhar para cima e verifiquei que não se tratava de uma " simples traquinice" própria da idade. Não! Eles entregavam-se com afinco a fazer pontaria para os carros que circulavam a alta velocidade, e ficaram ali largos minutos. Continuei o meu caminho, passando por baixo do viaduto, e já do outro lado, num ponto um pouco mais alto, fiquei a olhar para eles com o fim de dissuadi-los caso eles me vissem, o que realmente aconteceu. Olharam para mim diversas vezes, e retomaram o seu caminho, não sem ainda lançarem mais algumas pedras enquanto caminhavam. Prossegui o meu caminho, pensando no que leva 2 crianças daquela idade a "brincarem" com a segurança dos outros, pondo em risco a integridade física e até a própria vida, de pessoas ao volante dos seus carros, que já por si constitui um risco permanente! Será ignorância? Não creio. Uma criança daquela idade pode facilmente imaginar o que acontecerá se acertar num carro. E então? Será isso que lhes dá gozo? O "poder" de ser o causador anónimo dum acidente? Será que isto será tão inofensivo, como poderemos querer pensar? Traquinices de criança! Não sei, não. Basta pensarmos no já famoso "bullying" nas escolas! Ou seja, existem seres humanos que desde muito cedo revelam ter uma razoável apetência para a violência, e talvez alguns com um pouco de sorte, encontrem alguém ou algo (motivação?) que os "trave" na escalada. Outros seguirão o seu caminho, sem sequer ter oportunidade de experimentar outros sentimentos!

7 comentários:

j. manuel cordeiro disse...

É como se os miúdos de hoje vivessem os seus jogos de computador em 3D, na vida real.

Fenix disse...

Fliscorno, subscrevo o que diz, e receio que cada vez mais o ser humano se converta num "interface", sem auto-crítica e perdendo sempre um pouco mais a autoconsciência!

Quint disse...

Admito que os mencionados jogos de computador possam ter a sua influência, mas inclino-me ainda mais para a ausência mais absoluta de educação. Em casa note-se, pois para mim esta recebe-se em casa e a instrução na escola.
Quando as crianças nascem e são criadas num ambiente onde os progenitores mostram todos os dias só conhecer direitos, mas poucos ou nenhuns deveres; quando são criadas a ser-lhes tolerado quase tudo é fácil antecipar que venham a perder qualquer noção do que é o respeito por terceiros.

Fenix disse...

Caro Ferreira-Pinto
Também eu sou uma acérrima defensora do papel da educação (pelas famílias), dos valores do respeito pelos outros: “Trata os outros como queres ser tratado”. Porém, as famílias que não receberam essa “herança moral”, por tantos e díspares motivos, na realidade nunca a poderão transmitir, por não a possuir. Aí, talvez a função da escola ser pertinente, pois senão vai-lhes passar ao lado. Apesar de tudo estou convencida (e posso estar errada) que a simples (ou complexa) transmissão de valores, pode não produzir os efeitos pretendidos, pois o papel proactivo do receptor (criança) é imprescindível. Infelizmente, penso que existirá uma predisposição natural para a moralidade e a não se verificar…

Quint disse...

Cara Fénix perfeitamente de acordo, conquanto lhe tenha escapado um pequeno (mas importante) pormenor.
Escreveu que «as famílias que não receberam essa “herança moral”, por tantos e díspares motivos, na realidade nunca a poderão transmitir, por não a possuir (...)» ... ora, a Escola é constituída por pessoas sendo que maioritariamente os que lá estão agora são das famílias que refere.
É um ciclo de decadência em que mergulhamos e do qual não vislumbro como saíremos. E refiro-me ao Ocidente e não apenas a Portugal.

Fenix disse...

Caro Ferreira-Pinto, "mea culpa" pois no fundo sou uma "ingénua" ao esperar que a Escola (instituição) fosse colmatar essa falha!
Esqueci-me que a Escola tal como todas as instituições padece dos mesmos vícios que as famílias, não sendo "esteios" imutáveis, e ainda bem (nalguns casos)! E como diz o poeta "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades..."
Para contrariar esse "ciclo de decadência" que refere, quem sabe se talvez começando a abordar a Filosofia desde a creche, não conseguiremos que o ser humano comece a ser mais introspectivo e crítico, começando a aprender a SER em vez de só aprender a FAZER!

Quint disse...

A Filosofia que, a par da História, anda sendo tão maltratada pelos dias que correm. Felizmente, vai recuperando o seu espaço na escola.
Não sei é se a metodologia de abordagem seja a melhor, porquanto me parece que a opção é por abordar temas misturando pensadores e épocas; ora, se não estivermos ante um bom docente as coisas podem ser descontextualizadas.
Mas sempre é melhor que nada.